A dor nas costas é um problema muito comum, independente da região do mundo onde se vive. Desde 1990, os anos vividos com incapacidade devido ao problema aumentou 54%. Ao contrário de patologias como diabetes, doenças infecciosas ou alguns tipos de câncer, que tiveram um melhor controle com a evolução tecnológica, a dor nas costas gera mais anos vividos com incapacidade nos dias atuais do que há 100 anos. Isto ocorre devido vários fatores, dentre eles:
- O aumento da expectativa de vida e do crescimento da população mundial;
- O aumento da incapacidade de mobilidade física da população, principalmente em países pobres ou em desenvolvimento;
- Sedentarismo;
- Dificuldade de acesso a tratamentos com qualidade e baseado em evidências científicas;
- A legislação e cultura local que favorecem as estatísticas alarmantes, principalmente com impacto sócio-econômico.
Identificando a causa da dor nas costas
As dores nas costas (seja ela lombar, dorsal ou cervical) podem ser divididas, basicamente, em bandeiras vermelhas, dores específicas e dores inespecíficas.
As bandeiras vermelhas representam cerca de 5% das dores nas costas e acontecem em decorrência de problemas como fraturas, infecções, câncer, síndrome da cauda equina e doenças autoimunes. Sintomas relacionados a sinais neurológicos como perda progressiva de sensibilidade e força em pernas ou braços indicam a necessidade de procurar um médico para exames de imagem ou cirurgia imediata.
As dores nas costas específicas representam aproximadamente 10% dos casos clínicos. São classificadas como lombalgia ou lombociatalgia específica em pacientes que apresentam hérnia de disco extrusa ou estenose do canal vertebral com claudicação neurogênica. Nestes casos, exames complementares são importantes para mapear, detalhadamente, a condição clínica do paciente para indicação do tratamento ideal.
As dores inespecíficas representam a queixa da grande maioria dos pacientes que procuram auxílio dos profissionais da saúde, atingindo de 85 a 90% dos casos. O termo “inespecífica” significa que, atualmente, não conseguimos determinar a origem exata da dor nas costas, entretanto, a maioria das lombalgias, cervicalgias ou dorsalgias inespecíficas melhoram com o tempo. Cerca de 80% dos pacientes evoluem muito bem, mesmo sem tratamento, em até 8 semanas.
O tratamento ideal para cada paciente
Hoje, por meio de estudos sobre neurociência e sobre o papel vital do cérebro na dor, entendemos, com mais detalhes, as diferentes dimensões que causam incapacidade e cronificação dos sintomas em milhares de pacientes. Aspectos como sedentarismo, fumo, estresse, qualidade do sono, obesidade, fatores psicossociais e fatores psicológicos têm papel determinante na perpetuação da dor e, igualmente, na incapacidade de pacientes com dor nas costas.
Identificar, realizar triagem e classificar os pacientes que procuram serviços de saúde tem sido o grande foco para evitar a transição da dor, da fase aguda para a fase crônica persistente. Dor crônica é aquela que dura mais do que 12 semanas. Já a dor aguda é aquela que ainda não se estendeu para além dos 3 meses. Portanto, é preciso identificar o subgrupo e proporcionar o diagnóstico, o prognóstico e tratamento mais assertivo para a condição que o paciente se apresenta.
Referências:
Hartvigsen J, Hancock MJ, Kongsted A, et al. What low back pain is and why we need to pay attention. Lancet 2018; published online March 21.
Foster NE, Anema JR, Cherkin D, et al. Prevention and treatment of low back pain: evidence, challenges, and promising directions. Lancet 2018; published online March 21.
Buchbinder R, van Tulder M, Öberg B, et al. Low back pain: a call for action. Lancet 2018; published online March 21.