Olimpíadas 2016: A hérnia de disco de Anderson Varejão

Publicado em 1 de agosto de 2016


Por Rodrigo Vasconcelos

As mídias sociais estão inundadas de críticas por colegas de profissão a respeito do corte do jogador brasileiro da equipe olímpica de basquete, Anderson Varejão, anunciado na terça-feira. Precisamos, no entanto, ser cautelosos com comentários a respeito do possível desfecho clínico que o jogador teria se não tivesse sido cortado e tratado no Brasil, ou sobre o diagnóstico de hérnia discal lombar ou ainda críticas a respeito da Ressonância Magnética (RM) para uma simples lombalgia.

Eu explico porque: Primeiro, não conhecemos o exame clínico do paciente, não sabemos detalhes do caso e devido a isso é aconselhável não opinar a respeito do caso e ou do paciente. Segundo, as principais críticas são relacionadas a dois fatores: o fato de devido a uma lombalgia o atleta ter retornado aos EUA para fazer uma RM e ter sido dado o diagnóstico de hérnia discal e o fato de ser evidente o modelo biomédico apresentado. Modelo que lutamos contra atualmente com todas as forças.

Além disso, para quem teve curiosidade para saber o currículo do médico, ao entrar em seu site observa-se realmente este modelo biomédico. O medico é famosíssimo, um dos cirurgiões americanos top, e tem uma lista de jogadores americanos profissionais que foram tratados por ele, e 98% do site têm vídeos e explicações somente sobre cirurgia e uma ínfima página sobre a equipe e a metodologia da fisioterapia na coluna vertebral. (Para quem quiser conhecer o site, acessar o linkhttps://www.marinahospital.com/spine/center).

Ou seja, pode ser o caso sim da visão biomédica ter sido dominante, e tratado e dado o prognóstico de uma lombalgia pela Ressonância apenas e ter ignorado todo lado biopsicossocial como todos os problemas e ansiedades que Varejão passou nos últimos tempos com troca de times e perda de títulos e a ansiedade em relação a uma olimpíada em seu país, além de como o paciente recebeu as informações em relação a sua coluna, provocando nocebo e perpetuação do quadro. MAS, novamente com maiúsculo, é preciso entender: PODE ser também que exista um outro lado e esta lombalgia ser específica. E talvez a sintomatologia possa ser causada pela hérnia discal.

Quem lida com esporte sabe que tratar um atleta de altíssimo rendimento com dor lombar ou lombociatalgia ou ciática aguda ESPECÍFICA é uma das tarefas mais árduas que existem. Não só pelo nível de exigência mecânico, mas pelo prazo imposto e pelo forte aspecto psicossocial que atletas têm com a expectativa do desfecho, com a carreira, influência de mídia, torcida, diretores de clube etc. Mesmo com este grande desafio no perfil específico de atletas, a fisioterapia tem igual valor no retorno ao esporte comparado com microdiscetomia com taxas de retorno ao esporte entre 76-86% em duas recentes meta-análises (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/m/pubmed/26641847/…
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/m/pubmed/26491033/…)

Vale lembrar que não foi indicada cirurgia para o jogador, mas sim fisioterapia. Se quisermos ser mais específicos em evidências, estudo caso controle recente em hérnias discais somente em atletas da NBA NÃO demonstrou diferenças no retorno ao esporte na comparação entre cirurgia e fisioterapia.http://www.ncbi.nlm.nih.gov/m/pubmed/26502185/…
No entanto, os detalhes do tempo necessário ao retorno ao esporte demonstram enorme desafio sobre os prazos: todos os jogadores de basquete operados ou não voltaram a atuar somente na temporada seguinte da NBA. Ou seja, caso Varejão realmente tenha uma lombalgia específica devido a hérnia discal, seria improvável seu retorno às quadras em apenas duas semanas.

Portanto, vamos ficar atentos a diferentes cenários e versões em casos públicos envolvendo a fisioterapia.